Chegou então o momento em que Moisés morreria. Ele subiu ao monte Nebo e contemplou todas as terras que os filhos de Israel iriam receber por herança (v. 1-3), mas que ele próprio não poderia entrar (v. 4). Ele desejava ver a terra prometida, e Deus atendeu a sua oração, porém ele não iria entrar nela (Dt 3:23-29).
Moisés morreu ali no monte, sem a companhia de nenhuma pessoa a qual ele tinha liderado por tanto tempo, mas morreu na companhia de Deus. "Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos." (Sl 116:15).
A Bíblia diz que ele era "servo do Senhor" (v. 5). O NT diz que "Moisés era fiel, em toda a casa de Deus, como servo" (Hb 3:5). A palavra traduzida por "servo" em Hebreus é therapon. As palavras terapêutico e terapia derivam dela. O termo indica um ministério fiel e compassivo, como o do médico que cuida de um enfermo (CBASD, vol. 1, pág. 1184).
O verso 6 diz que foi o Senhor quem sepultou Moisés. A Bíblia não dá detalhes a respeito de como este fato ocorreu, mas é interessante notar o amor e cuidado de Deus por este servo, a ponto de Ele mesmo providenciar a sepultura de Moisés. Ninguém soube onde ficava a sua sepultura, apenas Deus (v. 6).
Porém, um dia Moisés foi ressuscitado por Cristo e levado ao Céu, o que fez com que o Diabo contendesse, pois desejava que Moisés permanecesse morto. No livro de Judas, no verso 9, é dito que o Diabo contendia com Miguel a respeito do corpo de Moisés. Miguel é um dos nomes de Cristo, pois significa "quem é como Deus?" (*).
A prova de que Moisés foi ressuscitado foi o momento da transfiguração de Cristo, quando Moisés apareceu ao lado de Elias (Mc 9:1-4). Elias não havia morrido, mas foi trasladado vivo ao Céu (2Rs 2:9-12). Da mesma forma, Moisés estava vivo quando apareceu a Cristo, o que indica que ele também estava vindo do Céu, algum tempo após ter sido ressuscitado.
Explicando melhor a questão da transfiguração: Jesus havia dito que alguns dos discípulos que estavam com ele não passariam pela morte sem primeiro ver o Reino de Deus tendo chegado (Mc 9:1). Se tomarmos essas palavras literalmente as palavras de Cristo ficam sem sentido, pois todos os apóstolos já morreram mais o Reino de Cristo ainda não chegou, pois Cristo ainda não voltou.
Na verdade, Jesus levou consigo para o monte os apóstolos Pedro, Tiago e João para que eles testemunhassem uma miniatura de como seria a chegada do Reino por ocasião da volta de Jesus: Cristo transfigurou-se assumindo sua aparência glorificada que é a que ele terá na sua vinda. Elias representando os justos que serão levados vivos para o Céu e Moisés representando os justos que morreram, foram ressuscitados e levados para o Céu.
Voltando para Deuteronômio 34, o verso 7 diz que Moisés morreu aos 120 anos, porém ele ainda tinha uma boa visão e o seu vigor continuava o mesmo. Provavelmente isto ocorreu devido à sua íntima comunhão com Deus. Quando esteve no monte a fim de receber os Dez Mandamentos ele passou 40 dias sem comer nem beber (Dt 9:9) e logo após descer do monte ele quebrou as tábuas devido o pecado do povo; então no dia seguinte ele subiu novamente ao monte, quando passou mais 40 dias sem comer e beber (Dt 9:18). A comunhão de Moisés com Deus lhe deu força física de maneira que ele não sentiu necessidade de alimento e água.
A comunhão com Deus é a nossa maior necessidade (Sl 130:6; 143:6). Se tivéssemos uma maior comunhão com Deus nós certamente sentiríamos menor ou nenhuma necessidade de muitas coisas que hoje temos como essenciais para a vida ou a felicidade, mas que na verdade são supérfluas. Jesus ensinou algo semelhante quando nos aconselhou a buscar o reino de Deus em primeiro lugar (Mt 6:33).
Após a morte de Moisés, Josué assumiu a liderança de Israel. Ele estava cheio do espírito de sabedoria, pois Moisés havia imposto as mãos sobre ele. Outras qualidades Josué já havia demonstrado possuir, como fé e coragem.
O capítulo termina afirmando que nunca mais houve um profeta em Israel com Moisés, com quem o Senhor falava "face a face" (v. 10). Na verdade, Moisés nunca viu a face de Deus (Êx 33:20). A expressão "face a face" é uma figura de linguagem que significa uma maior intimidade. Deus não falava a Moisés por meio de visões, mas vinha pessoalmente falar com ele, embora de forma encoberta.
Moisés é o autor do pentateuco, porém muitos perguntam: "quem escreveu o último capítulo de Deuteronômio, o qual fala da morte de Moisés?". Existem basicamente duas correntes de pensamento: uma que afirma que o próprio Moisés poderia ter escrito o capítulo, com base em uma visão futura. Outros atribuem a outros escritores, sendo mais provavelmente Josué, pois era o seu sucessor.
Ter um capítulo escrito por outra pessoa no livro de Moisés não diminui a sua importância como autor nem faz com que este livro não seja inspirado. Paulo foi o autor da carta aos romanos, mas a pessoa que escreveu no lugar de Paulo se sentiu livre para acrescentar uma saudação pessoal, dirigida a alguns amigos de Paulo em Roma (Rm 16:22-24). A presença deste final não altera o fato de que a epístola é de Paulo, e não de Técio, nem afeta a qualidade de sua inspiração.
Enfim, não sabemos ao certo qual seria o sentido de Deus proibir Moisés de entrar na terra de Canaã, mas depois ressuscitá-lo para levá-lo ao Céu. Mas, com certeza podemos aprender muito com a vida deste homem que foi um verdadeiro servo de Deus, fazendo sempre a Sua vontade, intercedendo pelo povo o qual ele estava guiando e sendo uma verdadeira luz no meio de gerações de pessoas infiéis a Deus.
Moisés não recebeu a herança terrestre, mas recebeu antecipadamente a herança celestial. Devemos ter em mente que mesmo que não venhamos a obter bens ou vantagens nesta vida, estejamos contentes por ter nosso nome inscrito no Livro da Vida, e possamos ter direito a ser cidadãos da pátria celestial.
* A respeito do Arcanjo Miguel, ler http://www.centrowhite.org.br/textos.pdf/01/46.pdf
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