Deus havia chamado os filhos de Israel, a descendência de Abraão, para ser o seu povo (Gn 12:1-2; Êx 6:7; 19:5-6; Lv 26:12), mas para isso eles deveriam ser fiéis ao Senhor, não servindo a outros deuses (Êx 20:3-6). Deus já havia advertido que o seu povo não deveria se envolver com os povos pagãos para que não seguissem os seus erros (Êx 23:23-24, 32-33).
No entanto, quando o povo foi habitar em Sitim começou a se prostituir com as mulheres moabitas. A prostituição neste verso tem um duplo
sentido. Era comum nos tempos antigos que os cultos idólatras envolvessem prostituição sexual (Gn 31:21; 1Rs 14:24; 15:12; 22:47; 2Rs 23:7; Jó 36:14; Os 4:14). Por outro lado, a Bíblia usa em várias passagens a palavra prostituição para se referir ao fato do povo cometer adultério espiritual, buscando outro deus ao invés do verdadeiro Deus (Êx 34:15-16; Lv 17:7; 20:5; Jz 8:33).
Vemos nos versos 1 ao 3 que as mulheres moabitas convidaram o povo para participar das festas aos seus deuses. Ali o povo de Deus participou da adoração a Baal-Peor, comendo os alimentos oferecidos ao deus pagão e se inclinando perante ele. A prostituição espiritual veio como consequência da prostituição literal.
Dentre os culpados pela apostasia havia até mesmo os "cabeças do povo" (v. 4), ou seja, pessoas que exerciam posição de liderança dentre as famílias do povo de Israel. De acordo com o original hebraico não se tem certeza a respeito da forma de execução, mas muitos comentaristas pensam que tenha sido o enforcamento. "Enforca-os ao Senhor" significa que eles seriam executados diante do tabernáculo, que é onde Deus de manifestava e para onde o povo ia quando deveria ouvir alguma mensagem da parte de Deus. Isto seria uma execução pública exemplar para o povo. Depois Deus deu uma ordem de que as pessoas de cada uma das 12 tribos deveriam matar as pessoas da sua própria tribo que houvessem participado dos cultos idolátricos (v. 5).
Então, um homem trouxe uma midianita para o acampamento para propósitos imorais "perante os olhos de Moisés", ou seja, desrespeitando a sua autoridade, e enquanto o povo chorava pelos seus mortos (v. 6).
Isto foi feito em cooperação com Moabe e Midiã e segundo o conselho de Balaão (Nm 31:16).
Ao ver isto, Finéias, filho de Eleazar, filho de Arão tomou uma lança e matou o homem israelita e a mulher midianita (v. 7 e 8). Isto ele fez por zelo pelas coisas de Deus (v. 11), então a praga cessou, após terem morrido 24 mil pessoas (v. 9).
Adaptado de CBASD, vol. 1, pág. 995-997
Ao lermos relatos como este achamos muito estranho e cruel da parte de Deus a forma como o povo era tratado, mas devemos lembrar que aquele povo vinha de décadas de rebelião e descrença contra Deus desde quando saíram do Egito, mesmo Deus tendo cuidado deles e fazendo tantos milagres para que eles cressem.
Muitos acham que existe um Deus cruel no Antigo Testamento e um Deus de amor no Novo Testamento. Na verdade, o Deus é um só (1Sm 2:2; Is 45:6, 18, 22; Jl 2:27) e Ele não muda (Ml 3:6) o que muda é a disposição do povo em seguir a Deus e por isso o tratamento aplicado ao povo é diferente.
Podemos encontrar amor e bondade no Deus do Antigo Testamento. O mandamento "amarás o teu próximo como a ti mesmo" citado por Jesus (Mc 12:31) veio do Antigo Testamento (Lv 19:18). Ele também ensinou o seu povo a não ser mal, a exercer bondade para com o inimigo, não ser parcial contra o pobre, não aceitar suborno e não oprimir o forasteiro (Êx 23:1-9). Deus por várias vezes perdoou no Antigo Testamento (2Sm 12:13; Sl 32:5; Is 55:7), mas o perdão de Deus é condicional: é necessário que o pecador esteja arrependido (2Cr 7:14; Ez 20:10-17), o que muitas vezes não aconteceu.
Da mesma forma, podemos encontrar ira, palavras duras e tratamento rígido no Deus do Novo Testamento. Jesus chamou os fariseus de "raça de víboras" (Mt 12:34; 23:33). Ele também fez um chicote de cordas para expulsar os vendedores do templo (Jo 2:15) derrubando as mesas e a Bíblia diz que Jesus fez isso por zelo para com o templo (Jo 2:17). No tempo dos apóstolos, Ananias e Safira morreram diante dos apóstolos por causa do seu pecado de reter as ofertas destinadas à igreja (At 5:1-11).
Devemos ter cuidado na análise que fazemos da forma como Deus lida com o pecado pois não conhecemos exatamente o contexto cultural da época e dos povos, os detalhes envolvidos em cada caso e principalmente a dureza do coração de cada pessoa envolvida no relato bíblico.
"Deus havia chamado os filhos de Israel, a descendência de Abraão, para ser o seu povo" com o propósito de o Filho de Deus nascer deste povo e então trazer salvação a todos os que nele crerem. Além de se tornarem um exemplo de como é bom servi ao Senhor dos Exércitos.
ResponderExcluirAs recomendações de não se unirem em matrimonio (julgo desigual) era a forma de cuidar deste povo seleto. A união com nações pagãs resultaria em apostasia, esfriamento da fé.
Como Balaão não conseguiu amaldiçoar o povo, então ele só teve que oferecer uma maldição "atraente" e logo o povo correu e apegou com todo "amor" à maldição. E por conta disso muitos foram mortos.
Temos trazido morte espiritual por estarmos buscando maldições atraentes aos nossos olhos hoje também?
O julgo desigual é apenas um exemplo de maldição buscada por nós.