Neste interessante capítulo, Deus dá instruções por meio de Moisés acerca do local onde se deveria prestar culto a Deus após o povo tomar pose das terras de Canaã, além de outras questões relacionadas a estes cultos.
O primeiro cuidado que o povo deveria ter ao entrar na terra prometida era destruir todo objeto de culto idólatra deixado pelos povos pagãos que haviam habitado ali (v. 2 e 3). Geralmente os pagãos faziam altares para adoração a seus deuses, além de colunas e postes-ídolos. As colunas na verdade tratavam-se de peças feitas de uma pedra. Todos esses objetos eram construídos geralmente no alto de montanhas, colinas e até em bosques.
Um ponto importante a ser observado está no verso 4: "Não fareis assim para com o SENHOR, vosso Deus". Deus não deve ser adorado por meio de altares, colunas, imagens e outros objetos. Contudo, posteriormente o povo de Israel transgrediu a ordem de Deus (2Rs 17:10,11; Ez 20:28; Os 4:13).
Naquela época, quando Israel tomasse posse da terra, eles não deveriam adorar a Deus em qualquer lugar, mas apenas no lugar onde Deus determinasse para a construção do seu templo. Essa era uma medida necessária para evitar que o povo tivesse contato com os locais dedicados anteriormente ao culto idólatra e assim fossem tentados a repetir suas práticas (v. 29 e 30). Esta ordem foi repetida outras vezes no capítulo (v. 5, 13, 14).
Outra recomendação que Deus repete no texto é a respeito dos sacrifícios e das ofertas que deveriam ser levados pelo povo. O texto fala em holocaustos, sacrifícios, dízimos, ofertas e primogênitos. Eram as várias modalidades de ofertas feitas a Deus. Um ponto que chama a atenção é o verso 7, onde se diz "Lá, comereis perante o SENHOR". O texto não se refere às refeições, mas sim a comer do que era oferecido ao Senhor (Êx 18:22). A carne dos animais sacrificados ao Senhor não deveria ser comida nos lares, mas apenas "perante o Senhor" (v. 8-12).
O texto fala também da carne que era consumida como alimentação, conforme o desejo da pessoa (v. 15). Por não se tratar de carnes vindas de sacrifícios e ofertas a Deus, estas carnes poderiam ser comidas nas casas. Neste sentido, eram comparadas com a carne de veado, pois esta não era utilizada cerimonialmente.
Uma interpretação errônea que se dá ao verso 15 é a de que o povo poderia comer tanto da carne de animais limpos como de animais imundos, devido o texto onde diz "o imundo e o limpo dela comerão". Esta má interpretação se dá devido a uma ambiguidade no sentido do texto. Quando esse texto fala "o imundo e o limpo" ele não se refere ao animal imundo e ao animal limpo, mas ao homem imundo e o homem limpo no sentido cerimonial. Todos os homens, tanto os impuros cerimonialmente quanto os limpos, poderiam comer das carnes citadas no verso 15, pois elas não eram oriundas de sacrifícios, e portanto eram consumidas em casa. Já as carnes dos sacrifícios somente poderiam ser comidas pelas pessoas limpas cerimonialmente, pois estas carnes eram consumidas no santuário "perante o Senhor" e os imundos cerimonialmente não poderiam participar.
Para entender melhor o sentido da expressão "o imundo e o limpo dela comerão" do verso 15, basta comparar com o verso 22: "Porém, como se come da carne do corço e do veado, assim comerás destas carnes; destas comerá tanto o homem imundo como o limpo." (grifo acrescentado). Nem faz sentido tal confusão, pois logo adiante Moisés deu ao povo a recomendação de se fazer a separação entre os animais limpos e imundos (Dt 14:3-21).
"Tão-somente o sangue não comerás" (v. 16). Esta afirmação, repetida no verso 23, diz respeito não a uma crença cerimonialista, mas sim um princípio de saúde. Se fosse apenas um preceito cerimonial, não teria sido confirmada pelos apóstolos como uma recomendação ainda vigente, inclusive para os gentios (At 15:20).
Os versos 17 e 18 falam sobre o ato de se comer do dízimo que era apresentado perante o Senhor. O dízimo citado aqui não era o primeiro dízimo separado pelo povo, pois este pertencia a Deus e deveria ser dado aos levitas (Nm 18:24). O dízimo do qual o povo poderia comer (somente nas proximidades do santuário) era um segundo dízimo. Deuteronômio 14:22-29 dá detalhes acerca deste segundo dízimo.
No fim do capítulo, Moisés reforça novamente a orientação para que o povo praticasse todas as palavras que ele tinha falado (v. 28).
Um ensinamento importante que podemos tirar para nossas vidas é que não basta somente fazer o certo (v. 28). Também é necessário não fazer aquilo que é errado, imitando os outros (v. 30). Para o nosso próprio bem, as ordens de Deus devem ser seguidas exatamente como ele ordenou. Não devemos alterá-la ao nosso próprio gosto (v. 32).
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