No capítulo 2 do livro do profeta Daniel, é relatado um sonho que o rei Nabucodonosor teve onde ele visualizou a sequência de reinos que iriam dominar a Terra após o seu reino e até o estabelecimento do reino de Cristo. Cada reino era representado por um metal da estátua. O reino da Babilônia era representado pela cabeça de ouro.
Provavelmente não contente com a interpretação do sonho de que o seu reino seria destruído e outro reino tomaria o seu lugar, o rei Nabucodonosor fez uma estátua toda de ouro (v. 1) indicando que o seu reino subsistiria eternamente (da cabeça aos pés da estátua).
Os convidados para a cerimônia de consagração da estátua eram todas as pessoas importantes do império (v. 2-3). Certamente, dentre estas pessoas estariam os três amigos de Daniel: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, a quem Nabucodonosor havia estabelecido como oficiais do império (v. 12; Daniel 2:49). Não se sabe porque Daniel não foi citado. Poderia estar doente ou ter se ausentado para muito distante. Alguns acreditam que, envergonhado por estar desobedecendo ao sonho da estátua, o rei poderia ter enviado Daniel para longe em uma missão importante.
O decreto era que todos os presentes deveriam se ajoelhar e adorar a imagem ao ouvir o som dos instrumentos musicais (v. 4-5) sob pena de morte na fornalha ardente (v. 6). Quase todo o povo obedeceu à ordem (v. 7), com exceção dos três jovens hebreus.
É interessante notar a rapidez com que alguns homens caldeus foram denunciar a desobediência dos três jovens ao rei (v. 8, note a palavra "imediatamente"). Estes caldeus eram a elite educada do império, membros do mesmo grupo intelectual dos três jovens. Isso indica um possível sentimento de ciúmes como sua motivação. Ao citarem as palavras "Há uns homens judeus, que tu constituíste" (v. 12) indica que eles estariam querendo afirmar que seria perigoso para o reino ter judeus em cargos de posição. Com isso também estariam indiretamente acusando o rei desse erro.
Primeiramente eles repetiram as palavras do decreto ao próprio rei (v. 10-11) e só depois relataram o fato de os jovens terem ficado em pé (v. 12). Parece que com isto eles estavam querendo dizer que os três jovens estavam desmoralizando o rei. Nabucodonosor sabia que eles, sendo hebreus, eram monoteístas e não adoravam imagens. O que provavelmente tenha causado a ira do rei foram as palavras dos caldeus que demonstram que a autoridade do rei estava sendo desprezada publicamente, o que causou a fúria do rei (v. 13).
Este fato mostra também que esses caldeus tiveram má intenção ao relatar o caso para o rei. Pode-se até mesmo imaginar que eles próprios poderiam ter dado ao rei a ideia de construir a estátua e fazer aquela cerimônia de consagração, pois um fato semelhante aconteceu entre os caldeus e Daniel (Daniel 6:4-8).
O rei chamou os jovens e ofereceu-lhes uma segunda oportunidade sob nova ameaça de morte na fornalha ardente. A ameaça incluiu até mesmo um desafio a Deus: "E quem é o deus que vos poderá livrar das minhas mãos?" (v. 15).
A oportunidade foi imediatamente rejeitada (v. 16-18). A palavra "responder" no verso 16 indica um sentido de responder a uma acusação, como quem foi levado a um tribunal. Eles estavam afirmando que não precisavam se defender da acusação dos caldeus (v. 8). Portanto, o sentido da frase poderia ser "não precisamos nos defender" ou "não precisamos dar desculpas", pois eles admitiam publicamente que não adorariam a imagem.
Com relação à pena de morte, eles colocaram a sua vida nas mãos de Deus. Eles demonstraram genuína fé em Deus ao afirmar que eles seriam salvos se Deus assim quisesse (v. 17). O mais interessante é que eles não tinham certeza se iriam ser salvos, mas mesmo assim estavam dispostos a ser fiéis ao Senhor (v. 18).
A resposta dos três jovens demonstram o que é fé. Fé não é pensamento positivo. Fé não é certeza de que tudo dará certo quando estamos com Deus. Fé é confiança em Deus, mesmo em meio à tribulação. Quando pensamos que Deus sempre nos salvará não estamos tendo fé, mas pensamento positivo. Se eles tivessem pensamento positivo teriam dito simplesmente "o nosso Deus irá nos salvar".
O rei então ficou completamente furioso e mandou que aquecessem a fornalha sete vezes mais (v. 19). Isto não era uma forma de aumentar a sua punição, pois aumentando o fogo só faria com que eles morressem rapidamente. Provavelmente, o que o rei queria era diminuir as chances de eles serem libertos pelo Deus que o rei havia desafiado.e que eles disseram que os salvaria. Para diminuir mais ainda as chances de libertação, o rei mandou os homens mais fortes realizarem a tarefa de amarrar os jovens e lançar na fornalha (v. 20).
O texto relata um contraste impressionante, que aumenta mais ainda o tamanho do milagre operado por Deus: o fogo matou instantaneamente aqueles homens (v. 22) descritos no texto como "os homens mais poderosos que estavam no seu exército" (v. 20) mas não queimou "os seus mantos, suas túnicas e chapéus e suas outras roupas" (v. 21). Os três jovens caíram amarrados dentro do fogo (v. 23), mas o que o rei viu foram quatro homens soltos andando no meio do fogo (v. 25) e um deles parecia com o filho dos deuses (v. 25).
O rei então chamou os jovens para fora da fornalha e viu que o fogo não tinha causado nenhum dano a eles e nem mesmo às suas roupas (v. 26-27). Espantado com o que houve ele bendisse a Deus por ter livrado aqueles jovens da morte (v. 28).
O rei reconheceu o seu erro nas palavras: "não há outro deus que possa livrar como este" (v. 29). Estas palavras são exatamente o oposto das anteriores: "E quem é o deus que vos poderá livrar das minhas mãos?" (v. 15).
Na história da fornalha ardente Deus revelou a Nabucodonosor a sua onipotência, pois pôde livrar os três jovens das mãos do rei, que por ser o chefe de um império achava que ninguém poderia escapar de suas mãos.
Para nós, este capítulo mostra de forma emocionante que Deus livra do mal os seus filhos fiéis. Contudo, este livramento não é exatamente evitando que o mal venha sobre nós, mas nos dando força e coragem nestes momentos. Deus não nos livra da fornalha, mas entra conosco lá.
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